Na manhã desta segunda-feira, 7 de abril de 2025, os mercados financeiros ao redor do mundo acordaram com o que muitos investidores chamam de “cheiro de sangue nas ruas” com a alta volatilidade dominando as bolsas internacionais. Desde o final da semana passada, os sinais de alerta estavam claros, e o Bitcoin, frequentemente visto como um termômetro do apetite por risco global, já dava indícios de tensão no mercado desde o domingo (06/04).
Com os mercados americanos ainda fechados, os índices futuros já apontavam para mais um dia de forte queda. Do outro lado do mundo, as bolsas asiáticas começaram a semana com perdas expressivas, e a Bolsa de Tóquio chegou a acionar o temido circuit breaker — um mecanismo que interrompe temporariamente as negociações para conter pânicos e volatilidade extrema.
O Início de um Bear Market?
O S&P 500, principal índice acionário dos Estados Unidos, abriu o dia com queda de 4%, acumulando uma perda de 17% apenas em 2025. Mas o número mais importante veio com a comparação desde a sua máxima histórica, registrada em 19 de fevereiro: com a correção passando dos 20%, o mercado americano entra oficialmente em bear market — termo usado quando um índice cai 20% ou mais desde um topo recente.
O índice Nasdaq-100, que reúne principalmente empresas de tecnologia, já registra uma correção de mais de 25%, um número que mostra que o investidor deixou de apenas reduzir risco: ele está fugindo do risco.
E o Brasil?
Por aqui, o Ibovespa também sente os impactos da aversão global ao risco, com queda acumulada de 6,3% desde o fim de março. No entanto, o mercado brasileiro apresenta uma particularidade: por não ter surfado com força o bull market de 2024, que elevou os índices americanos, nossos ativos estavam mais “descontados” — ou seja, já estavam baratos em termos relativos.
Com isso, mesmo com as quedas recentes, o Ibovespa ainda apresenta uma alta de 3,8% no ano (em reais). É um pequeno alívio diante do cenário internacional turbulento.
A Nova Guerra Comercial e o Medo da Recessão
O grande catalisador dessa nova onda de pessimismo é o recrudescimento da guerra comercial. As tarifas impostas por Donald Trump, em seu segundo mandato, reacenderam temores sobre desaceleração econômica global. O impacto dessas tarifas, que afetam desde produtos industriais até componentes de tecnologia, está começando a se espalhar por toda a cadeia produtiva.
O Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimento do mundo, passou a considerar quase 50% de chance de recessão nos EUA. Esse tipo de previsão vindo de instituições desse porte mexe profundamente com os mercados, pois reduz drasticamente o apetite por ativos de risco.
O Voo para a Segurança
Com o risco no ar, investidores do mundo todo correm para ativos considerados seguros. Isso inclui o dólar americano, títulos do Tesouro dos EUA (como os Treasury Bonds), ouro e até mesmo o franco suíço. O movimento é tão intenso que lembra o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, quando o S&P 500 caiu 24% em apenas um mês.
Nessa hora, um velho ditado de Wall Street volta à tona: “Compre ao som dos canhões, venda ao som dos violinos”. E, de fato, o barulho dos canhões parece ecoar pelos mercados globais.
Warren Buffett e a Paciência dos Grandes
Em momentos como este, é natural lembrar das palavras de Warren Buffett: “É quando a maré baixa que vemos quem estava nadando pelado”. O lendário investidor está sentado sobre uma pilha de mais de US$ 300 bilhões em caixa, aguardando a oportunidade certa para comprar ativos de qualidade a preços descontados.
Buffett, assim como outros grandes nomes do mercado, não tenta adivinhar o fundo do poço. Ele entende que é nas crises que surgem as maiores oportunidades para quem tem visão de longo prazo.
O Que Podemos Aprender com o Passado?
Para entender melhor o que pode acontecer daqui para frente, basta olhar para trás. Veja o que ocorreu com o S&P 500 durante e após a pandemia:
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Fev/2020 a Mar/2020: queda de -34%
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Mar/2020 a Dez/2020: alta de +68%
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2021: alta de +28,7%
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2022: queda de -18,1%
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2023: alta de +26,3%
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2024: alta de +25%
Ou seja, quem teve coragem de investir no auge do pânico em 2020, mesmo com todas as incertezas, viu seu capital mais do que dobrar em dólares até o fim de 2024. Do fundo de março de 2020 até agora, mesmo com a recente correção, o S&P 500 acumula alta de +125%.
Esses números mostram que o mercado americano, no longo prazo, é uma verdadeira máquina de gerar valor.
E Agora? É Hora de Comprar?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares — e a resposta mais honesta é: depende.
Se você investe com foco no longo prazo, tem uma carteira diversificada e uma estratégia bem definida, momentos de pânico são oportunidades. Como vimos, quem comprou durante os períodos de queda nos últimos anos foi amplamente recompensado.
Mas se você não tem caixa disponível, ou se investe pensando no curto prazo, talvez a melhor decisão agora seja não fazer nada. Em tempos de crise, a preservação do capital também é uma estratégia.
Dicas para Investidores em Tempos de Crise
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Revise sua carteira: veja se sua alocação de ativos está alinhada com seus objetivos e tolerância a risco.
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Evite decisões emocionais: não venda por pânico. O mercado se recupera — historicamente, sempre se recuperou.
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Aproveite oportunidades aos poucos: se quiser comprar, faça isso em etapas (famoso “dollar-cost averaging”).
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Invista em qualidade: empresas sólidas, com bons fundamentos, tendem a se recuperar mais rápido.
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Mantenha o foco no longo prazo: lembre-se que os grandes retornos vêm com paciência e constância.
Conclusão
O mercado financeiro está passando por um momento delicado. A combinação de uma nova guerra comercial, medo de recessão, e aversão generalizada ao risco provocou uma queda que já caracteriza um bear market nos Estados Unidos.
Mas, como sempre, momentos de tensão também trazem oportunidades. O investidor que conseguir manter a calma, analisar com racionalidade e se posicionar com sabedoria poderá colher bons frutos nos próximos anos.
O som dos canhões está mais alto do que nunca. E, se a história se repetir, quem tiver coragem de agir agora — com estratégia e cautela — poderá comemorar ao som dos violinos no futuro.